Parte V –
ADOLESCÊNCIA
Bases
biológicas e sociais da adolescência
Concepções da adolescência
A
palavra adolescência vem da palavra latina adolesco, que significa “crescer”.
Apesar das diferenças entre épocas e culturas, registros históricos documentam
que em outras sociedades as características do que chamamos adolescência são
muito parecidas.
A
adolescência ocorre primeiro de maneira biológica fazendo com que o individuo
se torne mais instável e passível de conflitos emocionais. Segundo Rousseau
essas mudanças podem ser consideradas como um renascimento, “nós nascemos, por
assim dizer, duas vezes; nascemos para a existência e nascemos para a vida,
nascemos um ser humano e nascemos um homem”.
A
adolescência passou a ser estudada no final do século XVIII e inicio do XIX,
pois foi quando a educação das crianças passou a ser difundida e extensiva que
as mais velhas passaram a atrair cada vez mais atenção social, porque elas
tendiam a se meter em confusões e eram difíceis de controlar.
Os
teóricos modernos da adolescência tentam explicar como os fatores biológicos,
sociais, comportamentais e culturais estão interligados na transição da
infância para a idade adulta. A adolescência segundo John Conger e Ann Peterson
(1984) começa na biologia e termina na cultura.
Arnold
Gesell compartilhava a idéia de Hall de que os adolescentes completaram o
caminho evolucionariamente prescrito do desenvolvimento. Ele admitia que o
ambiente podia exercer uma influência mais poderosa durante a adolescência do
que exercia anteriormente na vida, mas ainda afirmava que as condições
ambientais não alteravam o padrão básico do desenvolvimento de nenhuma maneira
fundamental.
Freud
encarava a adolescência como um estágio distinto do desenvolvimento, durante o
qual os seres humanos podiam finalmente realizar o imperativo biológico de se
reproduzirem, daí preservando a espécie. Para ele, a principal tarefa
desenvolvimental da adolescência é, por isso, restabelecer o equilíbrio das
forças psicológicas reintegrando-as de uma maneira nova e mais madura,
compatível com as novas aptidões sexuais do individuo. Embora a teoria
freudiana esteja enraizada na biologia, ela não ignora o mundo social. O
superego é, acima de tudo, a representação interna da sociedade e o ego faz a
mediação entre o mundo social incorporado no superego, por um lado, e as
demandas do id por outro.
Uma
tendência recente no estudo da adolescência tem sido o interesse na aplicação
das teorias e métodos da etologia e da biologia evolucionária ao estudo do
desenvolvimento humano. A pesquisa sobre o desenvolvimento de hierarquias
sociais e comportamento agressivo entre adolescentes indica a importância
continuada desses mecanismos de controle social biologicamente influentes
durante todo o desenvolvimento humano.
Puberdade
A puberdade começa com um sinal químico do hipotálamo,
localizado na base do cérebro, que ativa a glândula hipófise, um órgão do
tamanho de uma ervilha, que é um apêndice do hipotálamo. As gônadas ou órgãos
sexuais primários são os ovários nas mulheres e os testículos nos homens. Nas
mulheres, os hormônios estimulam os ovários a produzirem estrógeno e
progesterona e nos homens, os hormônios estimulam os testículos a fabricarem
testosterona, que provoca a produção de esperma.
A adolescência é o período do crescimento, nesse momento,
tanto meninos como meninas crescem mais rápido do que em qualquer outra época
desde o nascimento. As mudanças no tamanho físico são acompanhadas na forma
geral. Durante a puberdade, homens e mulheres adquirem as características físicas
distintas que caracterizam os dois sexos. As meninas desenvolvem seios e seus
quadris se alargam. Os meninos também perdem gordura durante a adolescência e,
por isso, parecem mais musculosos e angulosos que as meninas. As meninas
continuam a ter uma proporção mais elevada de gordura do que de músculos e, por
isso, têm um aspecto mais roliço.
Durante a puberdade, todos os órgãos sexuais primários,
os órgãos envolvidos na reprodução, aumentam e se tornam funcionalmente
maduros. As características sexuais secundárias, os sinais anatômicos e
fisiológicos que distinguem aparentemente os homens das mulheres, aparecem ao
mesmo tempo em que os órgãos sexuais primários estão amadurecendo.
A semenarca, a primeira ejaculação, em geral ocorre
espontaneamente durante o sono e é chamada de polução noturna. Os pêlos
axilares e faciais em geral aparecem cerca de dois anos depois de os pêlos
púbicos, a voz em geral engrossa no fim da puberdade, durante esse processo
sofre oscilações. Já as meninas, tem como primeiro sinal o florescimento do
seio, em seguida o útero começa a crescer e o revestimento vaginal engrossa, em
geral a menarca, primeira menstruação ocorre mais ou menos 18 meses depois da
explosão do crescimento ter atingido a sua velocidade máxima.
Como todos os eventos que ocorrem no desenvolvimento, o
ritmo das mudanças da puberdade depende de interações complexas entre fatores
genéticos e ambientais. Vários estudos têm documentado a importância dos
fatores ambientais no ritmo da menarca. Um fator fundamental é a ingestão
calórica. O inicio da menstruação é associado a aumentos na gordura corporal,
de forma que, quando a ingestão de calorias é insuficiente para produzir um
certo nível de gordura corporal, a menstruação é adiada, ou pode ser
interrompida assim que começou.
A puberdade também pode estar acontecendo mais cedo para
os homens, mas a evidência para essa mudança é menos direta. Cinquenta anos
atrás, a média dos homens americanos atingia sua altura máxima aos 26 anos.
Agora, esse marcador do final da puberdade ocorre, em média, aos 18 anos.
Estudos das mudanças físicas associadas a adolescência indicam que ela, em
geral, dura cerca de quatro anos. A duração da puberdade, no entanto, é tão
variável quanto a idade em que ela começa.
Em todas as sociedades, as mudanças biológicas associadas
a puberdade têm um profundo significado social e psicológico tanto para os
próprios jovens quanto para a sua comunidade. As atitudes e crenças das meninas
sobre a menstruação são apenas em parte um resultado da sua própria experiência
direta da menstruação. A maneira como elas percebem a menstruação é
influenciada pelas atitudes e crenças daqueles que as cercam.
As mudanças que ocorrem durante a adolescência são
perfeitamente normais, mas, na medida em que resultem em um tamanho ou forma
corporais que se desviam dos ideais culturais, podem ser a fonte de importante
angústia psicológica. Nos Estados Unidos, uma forma corporal magra,
pré-pubertária, é considerada como o ideal para as mulheres, um ideal que está
refletido em tudo, desde a televisão, o cinema e as imagens nas revistas, até
as formas das bonecas dadas as meninas.
Reforça esse ideal a freqüente representação, por parte
da mídia, das pessoas obesas como indivíduos infelizes e não atraentes as quais
falta autocontrole e que não são merecedores de respeito ou admiração. É menos
provável que as meninas das famílias afro-americanas e mexicano-americanas se percebam
como acima do peso, quando seu peso é normal, do que as meninas americanas
descendentes de europeus, principalmente porque as respectivas culturas das
primeiras valorizam um corpo mais amplo do que aquele promovido pela cultura
dos descendentes de ingleses.
A maturação precoce ou tardia tem sido objeto de estudos
de vários pesquisadores, nota-se que as diferenças de ritmos entre um
adolescente e outro pode trazer conseqüências para toda a vida. Á principio,
acreditava-se que a maturação precoce era sempre positiva para os homens, pois
era observado que os meninos que entravam na puberdade mais cedo, eram mais seguros,
tinham uma atitude mais favorável em relação a seus corpos, porém estudos
revelam que esses meninos nas fase adulta tendem a ter menos autocontrole e
estabilidade emocional, sem contar a maior vulnerabilidade durante a
adolescência de se envolver com drogas, álcool, e enfrentar problemas com a
lei.
Para as meninas a situação não é muito diferente, as
meninas que entram na puberdade cedo acabam ganhando prestigio social devido a
atração sexual, enquanto as meninas que entram na puberdade tardiamente podem
enfrentar dificuldades de adaptação e socialização, porém as conseqüências
gerias podem ser positivas. Segundo pesquisas feitas nos Estados Unidos,
meninas que passaram por mudanças físicas tardiamente na verdade estão mais
satisfeitas com seus corpos do que aquelas que amadureceram cedo.
As mudanças marcantes que os jovens experimentam em seu
sistema biológico durante a adolescência estão associados a mudanças igualmente
marcantes na maneira como eles interagem com suas famílias e com seus pares. À
medida que as crianças chegam a adolescência a interação com os pares se torna
mais intensa, ao mesmo tempo que aumenta a distância dos adultos.
Tanto para meninos quanto para as meninas as amizades dos
adolescentes desempenham um papel desenvolvimental semelhante em determinados
aspectos ao papel do apego na fase de bebê. Durante a fase em que os bebês
buscam uma “referência social” olhando para seus cuidadores constantemente,
para ver como eles avaliam o que está acontecendo, para os bebês os cuidadores
são uma “base segura” à qual podem recolher-se quando se sentirem ameaçados ao
explorarem seu ambiente, o bebê e o cuidador é a analogia do adolescente e seu
amigo.
No período da adolescência é comum ver grupos ou turmas
de adolescentes, nesse período há uma pressão por parte da sociedade, e
inclusive, por parte dos seus pares, esse período eles estão muito propenso a
ter comportamentos perigosos, e a se envolver em atividades ilícitas, pois
acreditam poder fazer e sair de qualquer situação embaraçosa e principalmente,
pelas pressões sociais.
Em muitas culturas, uma função fundamental do grupo de
pares é proporcionar um contexto para a transição aos relacionamentos sexuais.
A atividade sexual dos adolescentes varia segundo fatores contextuais
prevalecentes na cultura e no período histórico em questão. A variabilidade entre as sociedades com
relação à atividade sexual varia desde os costumes de muitas culturas do
Oriente Médio que proíbem as meninas de ter qualquer contato com homens fora de
suas famílias, após terem atingido a puberdade, até a expectativa entre alguns
grupos nas Filipinas de que a atividade sexual ocorrerá naturalmente.
Os pesquisadores que estudam o desenvolvimento da
atividade sexual usam o conceito de roteiros para descrever a sequência dos
comportamentos que precedem a atividade sexual. Nas sociedades ocidentais, nos
últimos anos os adolescentes tem seguido alguns passos, como beijos discretos,
beijo de língua, caricias, masturbação, até finalmente o contato genital.
As diferenças biológicas entre homens e mulheres preparam
o terreno para as experiências sexuais divergentes com o potencial erótico de
seus corpos. Isso se dá primeiro porque a genital masculina é exposta, enquanto
o centro do prazer feminino é clitóris, que fica escondido dentro da vulva, por
isso as meninas tem mais dificuldades para descobrir suas partes eróticas, os
homens, no entanto, em um contexto geral tem seu primeiro orgasmo através da
masturbação enquanto as mulheres terão muito mais tarde, em contatos sexuais
com homens.
A maturação biológica e o tempo cada vez maior passado
com os pares alteram as relações entre pais e filhos. A autoridade dos pais
diminui em relação à influência dos pares. Os pais agora devem exercer a sua
autoridade bem mais através da persuasão do que anteriormente. Ao contrário da
hipótese de uma cultura jovem distinta e separada dos adultos, a maior parte
dos adolescentes compartilha os valores dos pais. O diálogo, mais que o
conflito direto ou a rejeição, é o principal método para a resolução de
desacordos entre os adolescentes e seus pais.
Durante toda a adolescência, os pais exercer influência
sobre os filhos, os pais com autoridade têm filhos mais competentes na escola e
com menos comportamentos anti-sociais. Em relação ao trabalho foi analisado que
adolescente que tem quantidades moderadas de trabalho, sentem-se mais
independentes e eficazes, mas trabalho demais faz com tenha piores desempenhos
na escola.
Enfim, diante de todas as mudanças que ocorrem, vemos que
a adolescência é um período de confusão e transtorno tanto para o adolescente,
quanto para a família e a sociedade em geral. Isso se dá pelo fato de que a
mudança biossocial para a fase adulta não coincide com o status de adulto. O
conflito entre as forças biológicas e as forças sociais dá a essa transição
características psicológicas singulares.
REAÇÕES
PSICOLOGICAS DA ADOLESCÊNCIA
Pesquisas
sobre a maneira de pensar do adolescente
A transição da
infância para a idade adulta é acompanhada pelo desenvolvimento de uma nova
qualidade da mente, o adolescente passa a pensar de forma sistemática lógica e
hipotética. Uma manifestação desse novo modo de pensar é a tendência dos
adolescentes para tornarem-se críticos a respeito dos dogmas impostos e mais
críticos ainda a respeito das divergências entre os ideais que os adultos
defendem e seus comportamentos. Ao fim da adolescência os jovens devem conciliar
seus próprios ideais ao mundo real.
A maneira de pensar do adolescente é por um lado seu meio
psicológico mais importante para se compatibilizar com as tarefas da vida
adulta, e também resultado de suas lutas para reconciliar as exigências competitivas,
sociais e psicológicas da vida adulta. Dessa forma, o adolescente passa a
raciocinar hipoteticamente, além de pensarem sobre um fato, pensam nas
situações contrárias ao fato, pensam sobre a maneira de pensar, planejam o
futuro, e ainda, pensam além dos limites convencionais.
Uma característica da adolescência segundo Piaget é a
maneira como eles pensam sobre si mesmos, sobre seus relacionamentos e sobre a
natureza da sociedade, esse modo de pensar resulta de uma nova estrutura lógica
que ele denomina operações formais. O pensamento operatório formal é o tipo de
pensamento necessário para qualquer pessoa que tenha que resolver problemas
sistematicamente.
A maneira de pensar do adolescente tem sido estudada por
teóricos de várias áreas, devido a complexidade do assunto, Além das questões
cognitivas, muitos tem enfatizado a importância do contexto cultural. Um grande
avanço nas pesquisas sobre a maneira de pensar do adolescente possibilitou
desmistificar a diferença de gêneros, se antigamente acreditava que os homens
tinham mais capacidade de realizar atividades que exigissem pensamento
operatório formal, na atualidade os estudos mostram que essas diferenças
praticamente desapareceram, sendo atribuídas as variações culturais, ou seja, à
medida que os homens entravam na puberdade passavam a ser educados de forma
diferentes das mulheres, o que lhes dava um capital cultural muito mais
elevado, enquanto as mulheres eram educadas para os afazeres domésticos, com as
mudanças sociais as mulheres passaram a ter conhecimento em diversas áreas,
diminuindo essas contradições.
Além de Piaget outros teóricos contemporâneos tentaram
explicar esse período de transição, as abordagens neopiagetianas enfatizam uma
capacidade aumentada de processamento da memória que possibilita manter em
mente vários aspectos de um mesmo problema ao mesmo tempo. Já os teóricos do
processamento de informação formulam a hipótese de que a capacidade aumentada
da memória e uma maior eficiência no uso de estratégias e regras, mais que as
mudanças na lógica do pensamento, são responsáveis pelos novos processos de
pensamento dos adolescentes.
Os teóricos do contexto cultural propõem que o
envolvimento em novas atividades cria as condições para um novo nível de
pensamento sistemático. Supõe que o pensamento sistemático ocorre em todas as
sociedades, mas está sempre ligado às demandas de determinados contextos.
Segundo essa perspectiva, as melhoras na habilidade cognitiva durante essa
transição podem parecer continuas ou descontinuas, dependendo da profundidade
do conhecimento do jovem sobre um determinado contexto ou problema.
A
MANEIRA DE PENSAR DO ADOLESCENTE SOBRE A ORDEM SOCIAL
Como exposto anteriormente, durante a adolescência a
capacidade cognitiva aumenta, o que se manifesta através da maneira de pensar
sobre si e sobre os outros. Segundo os teóricos de diferentes linhas de
pesquisa os adolescentes sofrem maiores mudanças no modo de pensar política e
ciência entre os 12 e 19 anos de idade.
Segundo Kohlberg o raciocínio moral progride através de
três amplos níveis durante a infância e a adolescência, cada um deles
constituído de dois estágios. A cada estágio a criança vai fazendo analises
mais complexas sobre as obrigações morais que existem entre indivíduos e seus
grupos sociais.
Segundo o autor, o raciocínio moral no inicio da segunda
infância não se baseia em convenções sociais ou em leis. Próximo ao final da
segunda infância, as crianças atingem o nível convencional, em que elas começam
a levar em conta as convenções sociais e a reconhecer a existência de padrões
compartilhados do certo e errado. O primeiro estágio desse nível foi chamado
por Kohlberg de raciocínio, estar nesse estágio significa corresponder as
expectativas da família, dos professores e de outras pessoas, também chamado de
período da “moralidade do bom garoto ou da boa garota”.
O estágio 4 é o do raciocínio moral é como estágio 3
(raciocínio), exceto pelo fato de que seu foco se desloca das relações entre os
indivíduos para as relações entre os indivíduos e o grupo. O estágio 5
denominado de pós-convencional requer
que o raciocínio moral seja baseado na idéia de uma sociedade limitada por um
contrato social. Nesse período apesar de aceitar e valorizar o sistema social o
individuo passa a pensar formas alternativas e democráticas para melhorar esse
contrato social.
O último nível 6 só é atingido quando as pessoas fazem
julgamentos morais de acordo com princípios éticos que elas acreditam
transcender as regras das sociedades individuais. Kohlberg afirma que nem todos
chegam, ao estágio 6 , considerando-o portanto, mais como um ideal filosófico
do que uma realidade psicológica, pessoas nesse estágio agem motivados pela
crença de que há princípios éticos que se aplicam a toda humanidade, por
exemplo, alguns gentios colocaram suas vidas em risco para salvar judeus
durante a segunda guerra mundial, motivados pelo principio ético de que nenhum
ser humano merece vivenciar aquele estado de humilhação.
Mais uma vez através das pesquisas realizadas destruíram
a crença de que homens e mulheres tem diferenças na forma de pensar, apesar de
haver muitas controvérsias em relação à isso, os autores modernos atribuem o
raciocínio moral as questões do meio, da cultura e tempo vigentes, ao invés de
atribuí-lo a questões biológicas, que separam indivíduos por gênero.
Frequentemente, os julgamentos morais e as ações morais
não estão vinculados, os dilemas morais que os jovens enfrentam em sua
experiência da vida real não são tão definidos quantos os dilemas hipotéticos,
por exemplo, se hipoteticamente presenciamos uma briga sabemos que o correto é
interferir e tentar mediar, porém se isso acontece em nossa frente não saber se
é correto se envolver e tememos nos machucar.
Como conseqüência dos fatores concorrentes que entram nas
escolhas morais, há frequentemente algum tipo de lacuna entre os julgamentos
morais da pessoa e suas ações. Ao mesmo tempo, a capacidade de raciocinar sobre
questões morais proporciona o nível mínimo de entendimento requerido para a
ação moral. Outro fator que ajuda o adolescente a agir moralmente é a
capacidade de entender a situação dos outros e raciocinar de maneira
pró-social.
Com
relação a maneira de pensar a política, as concepções dobre as leis tornam-se
mais abstratas. Os adolescentes mostram uma capacidade crescente para
considerar as contribuições tanto individuais quanto sociais, as condições como
a pobreza e o desabrigo. Aparece uma apreciação do valor positivo das leis. Ao
mesmo tempo que os adolescentes desejam sistemas políticos ideais, tornam-se
cada vez mais céticos com relação as possibilidades de resolver problemas
sociais.
INTEGRAÇÃO
DO EU
A idéia mais
defendida sobre a adolescência é que esse é o período em que o individuo molda
sua base para uma personalidade adulta estável. A capacidade dos adolescentes
para levar em conta vários fatores ao mesmo tempo quando pensam sobre um
problema, seu conhecimento mais amplo e profundo das normas e dos códigos
morais da sociedade, e sua consciência cada vez maior de que a idade adulta
está se aproximando, contribuem para o estabelecimento de um sentido integrado
do eu e da identidade.
Á medida que as pessoas jovens vão chegando ao final da
adolescência, elas se tornam cada vez melhores na formulação de autodescrições
que se aplicam a vários contextos, permitindo-lhes integrar os eus
contraditórios que elas enxergam em si. Quando começam a perceber as
disparidades entre a maneira como realmente se comportam e a maneira como
deveriam se comportar eles começam a ficar preocupado com seu verdadeiro eu.
A beleza física fica em primeiro lugar dentre os anseios
dos adolescentes, principalmente para as meninas, em seguida vem a aceitação
dos pares. A ênfase na beleza física tem um impacto desastroso na auto-estima
das meninas, porque a maioria se considera feia. Na maioria dos países as
mulheres se mostram mais descontentes com sua auto-imagem do que os homens.
O processo da formação da identidade segundo Erikson
envolve a integração de mais do que a personalidade individual, os adolescentes
moldam seu senso firme do eu com base nas interações nas esferas individuais e
sociais. Sendo assim, a formação da identidade depende de como eles julgam os
outros, como os outros os julgam, como eles julgam os processos de julgamento
dos outros, e qual a capacidade de manter em mente categoriais sociais
importantes (segundo Erikson “tipologias”) disponíveis na cultura, quando eles
formam julgamentos sobre as outras pessoas.
James Marcia (1966) se concentrou em dois fatores
identificados por Erikson como essenciais para chegar a uma identidade madura:
crise/exploração e compromisso. Crise/exploração refere-se ao processo através
do qual os adolescentes examinam ativamente suas oportunidades futuras na vida,
reexaminam as escolhas que seus pais fizeram e começam a buscar alternativas
que eles considerem satisfatórias. O compromisso se refere ao envolvimento
pessoal dos sujeitos em – e na obediência a – objetivos, valores, crenças e
ocupação futura que eles adotaram para si.
Marcia (1966) identifica ainda quatro possíveis padrões
que surgem durante esse período de crise/exploração e compromisso, sendo eles:
conquista da identidade, em que tem opiniões próprias, exclusão, período em que
as opiniões dos adolescentes divergem tanto das demais que os deixam em estado
de isolamento ideológico, moratória, momento em que realmente a uma crise de idéias,
onde o adolescente não consegue ter um posicionamento firme sobre algo, vendo
pontos positivos e negativos em ambas as opções e poucas possibilidades de um
futuro melhor em qualquer um dos casos, exemplo, propostas políticas, e ainda a
difusão da identidade, os adolescentes tentam assumir várias identidades sem
conseguir estabelecer nenhuma.
A família e os amigos desempenham papel complementar no
processo de formação da identidade. Os processos pelos quais as meninas e os
meninos passam são similares, portanto, os conflitos, os medos e as
preocupações não divergem muito segundo pesquisas.
Esse momento é também o das descobertas e formação da
identidade sexual. A orientação sexual é claramente importante para a
identidade com o papel do sexo, mas não pode considerar que ela determine a
identidade sexual. A identidade sexual é também influenciada pelas categorias
de sexualidade presentes na cultura da pessoa e pelas atitudes da pessoa para
com aquelas que se ajustam a essas categorias. Tanto as categorias culturais da
sexualidade quanto as atitudes culturais em relação a ela variam muito entre as
sociedades e dentro das sociedades no decorrer do tempo.
A formação da
identidade não-heterossexual pode aparecer por quatro estágios, a
sensibilização: uma sensação de ser diferente, auto-reconhecimento e confusão
de identidade, assumindo a identidade e compromisso. Embora muitos estudos
sejam feitos não há certezas sobre os fatores que conduzem a formação de
identidade não-heterossexual. Sendo que alguns pesquisadores acreditam em
fatores biológicos, na influencia do meio e até mesmo exposição à andrógenos
durante o período natal.
A formação da identidade étnica na adolescência passa por
três estágios, a identidade étnica não examinada, a busca da identidade étnica
e a aquisição da identidade étnica. As variações apresentadas no processo de
formação da identidade se dão por conta de circunstancias socioculturais.
A
TRANSIÇÃO PARA A IDADE ADULTA
Como visto anteriormente existem profunda mudanças no
tamanho e na forma dos corpos das crianças, o que não significa que elas estão
amadurecendo. O amadurecimento mental em geral acontece depois que o corpo já
está preparado. A transição para a fase adulta pode ser mais complexa
dependendo do contexto em que está inserida. Em algumas culturas a adolescência
é vista como algo natural, inclusive, em relação ao sexo e a sexualidade, porém
em algumas culturas essas questões são tabu, o que faz com que a passagem para
a fase adulta seja mais difícil para esses jovens.
As variações históricas e culturais na organização das
vidas dos jovens após a segunda infância suscitam a questão sobre o fato de a
adolescência ser considerada um estágio universal do desenvolvimento. Embora a
transição para a idade adulta seja marcada por estresses sociais e psicológicos
adicionais, a adolescência como uma categoria social mais proeminente onde há
uma lacuna entre a capacidade para reproduzir biologicamente e a capacidade
para reproduzir culturalmente.
A partir dos temas da adolescência abordados dentro do
texto, e das pesquisas realizadas vemos que a adolescência no sentido de
crescimento corporal tem sido cada vez mais precoce, enquanto a maturidade para
a vida adulta tem sido adiada. Nas sociedades industriais modernas, em que a
adolescência é um estágio institucionalizado do desenvolvimento, as mudanças
biológicas, sociais e psicológicas criam uma configuração desenvolvimental, ao
contrário das ocorridas nos primeiros estágios do desenvolvimento.
Acadêmicas: Margarete de Oliveira Pinto Salvador, Deyse Mayara Epifânio Gomes, Suzana Maria da Cruz, Bruna Evangelista, Vanessa Soares e Dulcilene Cardine
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